Hipocloridria: O que é e quais os sintomas.
- Bruna Ferrete
- 23 de jan.
- 5 min de leitura
Quando falamos sobre a saúde digestiva, uma condição que frequentemente passa despercebida mas que pode causar muitos desconfortos e até prejudicar outros sistemas do corpo é a hipocloridria. Ela ocorre quando o seu estômago não consegue produzir ácido clorídrico (HCl) suficiente para a digestão adequada dos alimentos. Esse ácido é essencial para processar os alimentos, especialmente as proteínas, além de desempenhar um papel crucial na absorção de vitaminas e minerais, como vitamina B12, ferro, cálcio e magnésio. Basicamente, sem ele, seu corpo começa a ter dificuldade para obter os nutrientes essenciais que ele tanto precisa.

No meu caso, como já compartilhei com vocês em outra ocasião, essa condição se manifestou após o uso prolongado de medicações para o tratamento de doenças autoimunes, especialmente imunossupressores e outros medicamentos utilizados para controlar a atividade inflamatória das doenças que eu enfrentei. Durante o período de uso, eu sofri com sintomas como distensão abdominal, sensação de plenitude, gases, falta de energia e até algumas deficiências nutricionais. Hoje estou em remissão e sem os sintomas que antes me acompanhavam e essa deixou de ser uma realidade na minha vida.
Fato é que é mais comum do que se imagina e nem sempre está relacionada a problemas óbvios de digestão. Vamos entender melhor o que está por trás dessa condição, suas causas, como ela se manifesta, e por que o tratamento nutricional é fundamental para quem busca uma recuperação verdadeira.
Causas mais frequentes
Existem várias causas para a diminuição do ácido gástrico, mas, geralmente, o maior vilão é o uso prolongado de medicamentos que podem alterar a função natural do estômago. Os mais comuns incluem:
Inibidores da bomba de prótons (IBPs): medicamentos como o omeprazol, pantoprazol e lansoprazol. Esses medicamentos são amplamente prescritos para tratar refluxo ácido, úlceras e problemas gástricos. No entanto, o uso contínuo pode reduzir a produção de ácido gástrico. Para quem já sofre com essa condição, o uso prolongado desses medicamentos, embora possam trazer alívio momentâneo, pode agravar a situação no longo prazo.
Bloqueadores dos receptores H2: Como ranitidina e famotidina. Embora sejam menos potentes que os IBPs, esses medicamentos também podem comprometer a acidez gástrica se utilizados a longo prazo.
Antibióticos: O uso excessivo de antibióticos pode causar um desequilíbrio no microbioma intestinal e prejudicar a produção de ácido gástrico.
Estresse crônico e envelhecimento: Ambos podem afetar negativamente a função gástrica. O envelhecimento, por exemplo, é natural e tende a reduzir a secreção de ácido clorídrico.
Sintomas mais relatados
O principal sintoma é a dificuldade digestiva. Mas os sinais podem variar, e muitos podem ser erroneamente atribuídos a outros problemas. Os sintomas mais comuns:
Inchaço e gases após as refeições: A digestão incompleta dos alimentos, principalmente das proteínas, resulta em fermentação no intestino levando a gases e sensação de estufamento.
Azia e refluxo ácido: Pode parecer contraditório já que essa condição reduz a produção de ácido mas o estômago tenta compensar essa deficiência com a produção de mais ácido causando queimação e refluxo.
Deficiências nutricionais: Como o ácido gástrico é necessário para absorver vitaminas e minerais (como a vitamina B12, cálcio e ferro), a falta dele pode provocar cansaço, fraqueza, palidez, quedas nos níveis de energia e até mesmo osteoporose.
Sensação de plenitude prolongada após refeições: O processo digestivo é mais demorado, o que provoca sensação de estar "pesado" por muito tempo após comer.
Intolerância a certos alimentos: Isso pode incluir uma dificuldade com carne ou alimentos ricos em proteínas que dependem muito de uma produção de ácido adequada para a digestão.
Sua relação com o Super Crescimento Bacteriano (SIBO)
Uma das consequências mais sérias de ter pouco ácido gástrico é o aumento do risco de supercrescimento bacteriano no intestino delgado (SIBO). Quando o ácido do estômago está reduzido, as bactérias do intestino podem "se multiplicar" mais rapidamente do que deveriam. Isso acontece porque o ácido gástrico serve não apenas para digerir alimentos, mas também para "limpar" as bactérias que podem entrar no estômago durante a alimentação. Quando esse processo é comprometido, as bactérias indesejadas podem prosperar, levando a sintomas de SIBO como diarreia, gases e dor abdominal.
Ela afeta a tireoide e outros sistemas?
Sabia que hipocloridria e disfunções da tireoide podem estar interligadas? A produção insuficiente de ácido gástrico pode prejudicar a absorção de minerais essenciais para o funcionamento da glândula tireoide, como o iodo e o selênio. Isso pode influenciar diretamente condições como o hipotireoidismo e a tireoidite de Hashimoto que são doenças autoimunes onde o metabolismo é comprometido, assim como a função do sistema endócrino. Quando há deficiência desses nutrientes, o equilíbrio hormonal da tireoide pode ser afetado, complicando ainda mais o quadro de saúde.
Além disso, já se sabe que os hormônios da tireoide participam como cofatores da produção de ácido pelo estômago, logo, manter a tireoide funcional faz com que sua digestão também seja funcional.
Além disso, também tem sido associada a diversas condições clínicas, como:
Doenças autoimunes: Estudos apontam que o déficit de ácido gástrico pode estar ligado a distúrbios autoimunes como artrite reumatoide e doenças inflamatórias intestinais.
Anemia ferropriva: A redução de ácido no estômago prejudica a absorção de ferro que, por sua vez, pode levar a uma forma de anemia.
Osteoporose: A deficiência de cálcio e magnésio devido à falta de ácido gástrico pode contribuir para o enfraquecimento dos ossos.
Infecções intestinais: Como mencionamos, o baixo nível de ácido no estômago favorece a proliferação de bactérias ruins, o que pode resultar em infecções intestinais crônicas, como candidíase intestinal e SIBO.
Tratamento Nutricional: A chave para a recuperação
A boa notícia é que tem solução e o tratamento nutricional tem um papel crucial nesse processo. Como experimentei pessoalmente, a melhora na produção de ácido gástrico não vem com medicamentos mas sim com estratégias alimentares e suplementação que estimulem a secreção de ácido no estômago de maneira natural e saudável. Algumas abordagens são importantes para esse processo de recuperação:
Ajuste alimentar: Um plano alimentar direcionado para essa condição levando em consideração as deficiências, o processo digestivo e até mesmo outras doenças relacionadas são o pilar para que esse estômago volte a fazer a digestão de forma otimizada e entregue os nutrientes necessários para sua saúde.
Suplementos digestivos: Betaína HCl com pepsina pode ser útil para aqueles com deficiência comprovada de ácido gástrico. A suplementação pode restaurar em conjunto com a alimentação direcionada a acidez para melhorar a digestão.
Vitaminas e minerais: Suplementar com vitamina B12, vitamina C, ferro e magnésio, para compensar as deficiências causadas pela falta de ácido gástrico.
Comer devagar e em quantidades adequadas, priorizando fontes de proteínas de fácil digestão como ovos, peixes e carnes magras.
Evitar refeições grandes e excessivamente gordurosas que podem sobrecarregar o estômago e dificultar ainda mais a digestão.
Com essas mudanças, é possível restaurar a produção de ácido gástrico e, com o tempo, reduzir ou até mesmo eliminar os sintomas de baixo ácido. E lembre-se, é sempre fundamental a orientação de um profissional qualificado para personalizar seu tratamento e garantir sua saúde a longo prazo.
Viver assim não precisa ser a sua realidade. Você pode conquistar a saúde digestiva que merece! Se você tem dúvidas ou gostaria de saber mais sobre como tratar essa condição de forma natural e eficaz, entre em contato comigo! Vamos juntos reconstruir sua digestão e sua qualidade de vida!
_________________________________________________________________________________
*Este conteúdo não substitui a orientação de um especialista. Agende uma consulta com o seu nutricionista para entender melhor sobre a Hipocloridria.
Siga nas redes sociais para se manter sempre atualizado.
Insta: @brunaferretenutri
Comments